Dizem que a ditadura militar de 1964 foi um “Golpe de
Estado”. A pergunta é: Qual Estado?
João
Goulart foi um candidato que tinha grande apreço por parte do
povo e que tinha intenções muito próximas ao socialismo que Fidel implantava em
Cuba. Seus opositores, no entanto, tinham o joker a seu favor. Kennedy,
presidente dos EUA, não podia deixar que o imperialismo econômico de sua pátria
perdesse um mercado tão grande como o Brasil para o socialismo. Perder Cuba
custou, certamente, alguns milhões de dólares aos EUA. Mas Cuba é espacialmente aceitável. O Brasil,
contudo, era uma potência promissora na América Latina. O ego já abalado dos
EUA não podia dar-se ao luxo de perder um mercado vasto que levantaria
novamente a humilhação da perda de Cuba. E Getúlio Vargas e JK tinham executado
tão bem o plano econômico capitalista para ser perdido por um “Jango”.
Por intermédio do
embaixador norte americano no Brasil, a intervenção indireta dos EUA arquitetou
a deposição de João Goulart. Manipulação e distorção de informação nos jornais
impressos e na televisão, aliado ao financiamento dos opositores de João
Goulart carimbavam na cabeça da massa: “O Brasil irá se perder na macha de
sangue do comunismo, tal como se mancharam Rússia e China. João Goulart, esse
comunista ígneo, irá destruir a liberdade, a democracia!”. Ora, Se já não é
difícil manipular a massa norte-americana a ponto de elegerem um presidente
como Kennedy, é ainda mais fácil manipular a massa brasileira.
Assim, a ditadura de
64 foi, claramente, um golpe de Estado, dos
Estados Unidos. E, em seus princípios, não foi um
movimento político. Seu grande motor foi a economia,
o imperialismo econômico dos EUA. A esfera da política serviu como instrumento
para a consecução da vontade econômica. E isto é o procedimento comum em
economias neo-liberais.
Este é o cerne do golpe
de 64. O modelo de racionalidade que impera na economia foi o motor da ditadura
militar no Brasil. Política foi apenas o meio empregado para a realização das
intenções econômicas dos EUA.
Não se pode olhar a
ditadura como hoje se faz: apelando tão somente para o sentimentalismo das vítimas. Isso é uma estratégia de controle que ofusca a razão
econômica para tal. Algum de nossos governos que sucederam à ditadura acertou contas com os EUA? Vemos a economia imperialista ser atacada no ativismo contra a ditadura, veiculado pela TV? Não. E isto por que a questão precisa ser colocada em termos de mentalidade. A ditadura não foi política em sue bojo. A ditadura foi – e
continua sendo – de pensamento. De um tipo específico de pensamento, de visão
de mundo, a capitalista. A ditadura militar precisa ser lida também como um atentado ao pensamento.