terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A Ditadura de 64 realmente acabou?

   Dizem que a ditadura militar de 1964 foi um “Golpe de Estado”. A pergunta é: Qual Estado?
   João Goulart foi um candidato que tinha grande apreço por parte do povo e que tinha intenções muito próximas ao socialismo que Fidel implantava em Cuba. Seus opositores, no entanto, tinham o joker a seu favor. Kennedy, presidente dos EUA, não podia deixar que o imperialismo econômico de sua pátria perdesse um mercado tão grande como o Brasil para o socialismo. Perder Cuba custou, certamente, alguns milhões de dólares aos EUA. Mas Cuba é espacialmente aceitável. O Brasil, contudo, era uma potência promissora na América Latina. O ego já abalado dos EUA não podia dar-se ao luxo de perder um mercado vasto que levantaria novamente a humilhação da perda de Cuba. E Getúlio Vargas e JK tinham executado tão bem o plano econômico capitalista para ser perdido por um “Jango”.
   Por intermédio do embaixador norte americano no Brasil, a intervenção indireta dos EUA arquitetou a deposição de João Goulart. Manipulação e distorção de informação nos jornais impressos e na televisão, aliado ao financiamento dos opositores de João Goulart carimbavam na cabeça da massa: “O Brasil irá se perder na macha de sangue do comunismo, tal como se mancharam Rússia e China. João Goulart, esse comunista ígneo, irá destruir a liberdade, a democracia!”. Ora, Se já não é difícil manipular a massa norte-americana a ponto de elegerem um presidente como Kennedy, é ainda mais fácil manipular a massa brasileira.

   Assim, a ditadura de 64 foi, claramente, um golpe de Estado, dos Estados Unidos. E, em seus princípios, não foi um movimento político. Seu grande motor foi a economia, o imperialismo econômico dos EUA. A esfera da política serviu como instrumento para a consecução da vontade econômica. E isto é o procedimento comum em economias neo-liberais.
   Este é o cerne do golpe de 64. O modelo de racionalidade que impera na economia foi o motor da ditadura militar no Brasil. Política foi apenas o meio empregado para a realização das intenções econômicas dos EUA. 
   Não se pode olhar a ditadura como hoje se faz: apelando tão somente para o sentimentalismo das vítimas. Isso é uma estratégia de controle que ofusca a razão econômica para tal. Algum de nossos governos que sucederam à ditadura acertou contas com os EUA? Vemos a economia imperialista ser atacada no ativismo contra a ditadura, veiculado pela TV? Não. E isto por que a questão precisa ser colocada em termos de mentalidade. A ditadura não foi política em sue bojo. A ditadura foi – e continua sendo – de pensamento. De um tipo específico de pensamento, de visão de mundo, a capitalista. A ditadura militar precisa ser lida também como um atentado ao pensamento.