Deu-se início, nas últimas semanas, à
análise de um processo de impeachment contra a atual presidente do Brasil,
Dilma Rousseff. Já tensionado por vários escândalos político-econômicos ao
longo do ano, este fato, com certeza, levou o Brasil ao extremo. Momentos
extremos tendem a ser radicais, nos fornecendo, de início, duas alternativas
para resolver a situação: ou pressionar o extremo até seu esgotamento ou mover
tudo para o extremo oposto. Porém, é em momentos extremos que também o
pensamento é contorcido, renovado, violentado, instigado a ser criativo e
pensar terceiras, quartas, quintas, enésimas alternativas.
O extremo da atual política brasileira é:
lutar com toda a hipocrisia para salvar o inábil, moribundo e degenerado PT ou
saltar para o extremo da ignorância, repressão e corrupção, esperando em vão um
toque messiânico do PSDB. Seria então isso, que a política brasileira se resume
a uma guerra dualista entre dois partidos? Não há outra forma de prática
política, que não passe pela forma “Partido”?
Conhecemos a forma “Partido” como a instituída forma jurídico-representativa de reunir as reivindicações políticas de
um grupo. O problema está com o termo sublinhado. A representatividade é uma maneira
de atribuir uma identidade geral e homogênea a todos que pertencem a um partido
ou a um coletivo. Sob estes signos forma-se um sujeito plural coletivo, cujo
rosto é a identidade do partido ou coletivo, uma vontade geral homogeneizante e
totalizadora, que ignora as especificidades de cada integrante. “Não interessa
suas singularidades, você está do lado de tal partido, logo...”. Todo Partido
vive essa contradição de ser, em forma, uma parte
totalitária. A controvérsia em torno do partido é que esta forma é
legitimada por uma jurisdição que a torna legal e instituída. Ou seja, a
constituição de um sujeito plural se faz já na amarra legal e institucional que
rotula as vontades, excluindo suas diferenças. Até que ponto, então, partidos
ou coletivos conseguem modificar uma sistema legal conflitante, quando é por
ele possibilitada e legitimada? É como um cassino: a casa sempre ganha por que
ela controla as variáveis.
Nosso problema
político contemporâneo faz um desesperado apelo poético: É preciso promover
novas formas de constituição de um “nós” político. As manifestações plurais
ocorridas em Agosto, Setembro e Outubro de 2013, por todo o Braisl, – incitadas
pelo aumento de R$0,20 na tarifa de ônibus, mas que cresceram e se
diferenciaram desta pauta tão somente – foram um excelente exemplo de uma
exercício político sem um “nós” previamente rotulado. Tais manifestações não
levantaram a bandeira de um partido ou de um coletivo, ainda que alguns destes,
como o movimento passe-livre e o PSOL, tenham participado. Nada de política
representativa foi significativo. O movimento era feito por singularidades
unidas por uma pauta e que preservaram a diferença de suas vozes. A diferença
unida no mesmo. O Brasil ainda é capaz disso?