domingo, 6 de dezembro de 2015

Nós, partidos

Deu-se início, nas últimas semanas, à análise de um processo de impeachment contra a atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Já tensionado por vários escândalos político-econômicos ao longo do ano, este fato, com certeza, levou o Brasil ao extremo. Momentos extremos tendem a ser radicais, nos fornecendo, de início, duas alternativas para resolver a situação: ou pressionar o extremo até seu esgotamento ou mover tudo para o extremo oposto. Porém, é em momentos extremos que também o pensamento é contorcido, renovado, violentado, instigado a ser criativo e pensar terceiras, quartas, quintas, enésimas alternativas.
O extremo da atual política brasileira é: lutar com toda a hipocrisia para salvar o inábil, moribundo e degenerado PT ou saltar para o extremo da ignorância, repressão e corrupção, esperando em vão um toque messiânico do PSDB. Seria então isso, que a política brasileira se resume a uma guerra dualista entre dois partidos? Não há outra forma de prática política, que não passe pela forma “Partido”?
Conhecemos a forma “Partido” como a instituída forma jurídico-representativa de reunir as reivindicações políticas de um grupo. O problema está com o termo sublinhado. A representatividade é uma maneira de atribuir uma identidade geral e homogênea a todos que pertencem a um partido ou a um coletivo. Sob estes signos forma-se um sujeito plural coletivo, cujo rosto é a identidade do partido ou coletivo, uma vontade geral homogeneizante e totalizadora, que ignora as especificidades de cada integrante. “Não interessa suas singularidades, você está do lado de tal partido, logo...”. Todo Partido vive essa contradição de ser, em forma, uma parte totalitária. A controvérsia em torno do partido é que esta forma é legitimada por uma jurisdição que a torna legal e instituída. Ou seja, a constituição de um sujeito plural se faz já na amarra legal e institucional que rotula as vontades, excluindo suas diferenças. Até que ponto, então, partidos ou coletivos conseguem modificar uma sistema legal conflitante, quando é por ele possibilitada e legitimada? É como um cassino: a casa sempre ganha por que ela controla as variáveis.
Nosso problema político contemporâneo faz um desesperado apelo poético: É preciso promover novas formas de constituição de um “nós” político. As manifestações plurais ocorridas em Agosto, Setembro e Outubro de 2013, por todo o Braisl, – incitadas pelo aumento de R$0,20 na tarifa de ônibus, mas que cresceram e se diferenciaram desta pauta tão somente – foram um excelente exemplo de uma exercício político sem um “nós” previamente rotulado. Tais manifestações não levantaram a bandeira de um partido ou de um coletivo, ainda que alguns destes, como o movimento passe-livre e o PSOL, tenham participado. Nada de política representativa foi significativo. O movimento era feito por singularidades unidas por uma pauta e que preservaram a diferença de suas vozes. A diferença unida no mesmo. O Brasil ainda é capaz disso?